- Dois projetos apoiados pelo Ford Fund - braço filantrópico da Ford - estão ajudando comunidades em situação de vulnerabilidade a terem melhores condições de vida por meio da apicultura
- Em ambos os casos, as iniciativas no Brasil e na Alemanha fazem parte do “Ford College Community Challenge” (Ford C3), ação em parceria com a Enactus, organização internacional sem fins lucrativos que fomenta o empreendedorismo social dentro das universidades pelo mundo
Dois projetos apoiados pelo Ford Fund - braço filantrópico da Ford - estão ajudando comunidades em situação de vulnerabilidade a terem melhores condições de vida por meio da apicultura. Em ambos os casos, as iniciativas no Brasil e na Alemanha fazem parte do “Ford College Community Challenge” (Ford C3), ação em parceria com a Enactus, organização internacional sem fins lucrativos que fomenta o empreendedorismo social dentro das universidades pelo mundo.
No Brasil, os universitários foram desafiados a desenvolver projetos empreendedores para encontrar formas inovadoras de solucionar uma necessidade específica e urgente em uma comunidade local, empoderando-a para se tornar um lugar mais sustentável para trabalhar e viver. A equipe da ESAG UDESC (Escola Superior de Administração e Gerência), de Florianópolis (SC), implementou o projeto Arapuã na comunidade Tapera da Base, na capital catarinense, que atravessa grave situação de vulnerabilidade social. O time buscou soluções para os problemas por meio de uma atividade inovadora, altamente lucrativa e sustentável, capaz de capacitar a comunidade social e economicamente respeitando o meio ambiente: a apicultura de mangue.
A prática produz mel com valor agregado de 100% quando comparado com o regular, além de um tipo diferente de própolis que tem alto valor por causa de suas propriedades medicinais. “Com grande participação do Conselho Comunitário, o Projeto Arapuã está sendo implementado junto a duas famílias da comunidade, das quais duas pessoas, uma de cada família, estão sendo capacitadas na atividade apícola”, explica Bruna Silveira, coordenadora da equipe. Segundo ela, todo o processo produtivo no local será realizado pela comunidade, de forma que a atividade não comprometa a rotina semanal, pois demanda poucas horas de trabalho ao longo da semana. São dez colmeias instaladas, sendo que cada participante é responsável por cinco.
“Como a comunidade de Tapera da Base é uma das mais carentes da ilha de Florianópolis, essa proposta inovadora e sustentável traz benefícios que vão além do retorno financeiro. As abelhas possuem grande importância para o equilíbrio dos ecossistemas e, ao introduzir essa espécie no mangue, há uma diminuição dos impactos negativos que ocorrem nos biomas da região, ponto de discussão frequente devido à exploração imobiliária. Além disso, o projeto está atrelando um viés econômico ao mangue, região subvalorizada e que sofre com grande especulação imobiliária”, avalia Bruna.
Alemanha
Há dois anos, Hafez Al-Moussa, 28 anos, fez a perigosa travessia pelo Mar Mediterrâneo até a Europa em busca de um recomeço na Alemanha, depois de fugir da Síria, devastada pela guerra. Quando criança, ele costumava ajudar a colher mel na fazenda da família. Neste ano, ele relembrou os tempos de infância em seu novo país, como parte do projeto Townbee, concebido para ajudar os refugiados a aprenderem a língua de sua nação de acolhimento e a integrá-los às suas sociedades, ao mesmo tempo em que apoia a população de abelhas do planeta, que está ameaçada. Um pouco do trabalho pode ver visto neste vídeo.
“Como as abelhas, lutamos pela sobrevivência. Os primeiros momentos na Alemanha foram difíceis. As coisas simples, como atravessar uma estrada ou comprar comida, são mais desafiadoras quando você não fala o idioma”, diz Al-Mouassa, que desistiu de estudar Engenharia Civil quando saiu de seu país de origem. “Foi incrível compartilhar a emoção de colher o mel pela primeira vez com meus novos amigos alemães, que nunca tinham visto uma colmeia de abelhas.”
Projeto de alunos de uma universidade de Munique, a intenção é que Townbee esteja presente em todas as grandes cidades da Europa que tenham uma população significativa de refugiados. Em Munique, as colmeias estão nos jardins e telhados das empresas no centro da cidade e o mel é vendido em lojas e mercados locais. Todos os ganhos retornam para o projeto e, desde que se juntou ao grupo, Hafez se matriculou na mesma universidade, onde agora está dando continuidade aos seus estudos. “Townbee me ajudou a conhecer pessoas, compartilhar novas experiências, aprender a língua e as tradições do meu novo país, além de ver mais claramente o meu futuro”, afirma. “Além dos amigos que fiz por meio do projeto, também tenho 40 mil abelhas que confiam em mim.”
“Aprender uma língua e conhecer pessoas em um novo país são grandes desafios para os refugiados. Esta é uma maneira de fazer isso e também ajudar as abelhas a se desenvolverem”, comenta Hannes Schroter, estudante de Negócios e integrante do projeto Townbee.